Religião, ou ciência e arte do despertar?: A realista e mais proveitosa orientação espiritual.

A explicação obtida dos dicionários, definindo as Religiões como conjuntos de crenças e de códigos, leis, normas, preceitos, princípios, regras ou sistemas culturais, com suas particulares visões e símbolos para relacionar o homem terreno com a espiritualidade, pode ser satisfatória como definição semântica, de total neutralidade. Entretanto, as religiões não são algo investido de vida própria, que desempenhem sozinhas seu papel, necessitando da participação de indivíduos que a proclamem, dando-lhes um tipo de vida e poder que, aliás, chegam a exercer um grande domínio sobre a humanidade, mantendo-a sob rígido controle.
Sobrepondo às religiões este ingrediente enérgico e veemente, sua definição semântica fria e impessoal seria retirada do pedestal de brandura em que se almeja colocá-las, para, muito ao contrário, serem deixadas deslizar para algum outro lugar obscuro. Quiçá, tenebroso, conquanto sua cândida ideação conceitual não traduz o fervor individual ou coletivo de que com tanta intensidade tomados os fiéis mais exaltados, a ponto de deflagrarem guerras que, fugindo do campo das ideias, vezes sem conta, chegam às vias de fato, abraçando em seu nome uma causa que muito se distancia de sua verdadeira finalidade.
Sob este prisma, deixando de fora os pacíficos, ainda que dentre eles também se incluam os que nunca emergem de sob o rígido controle até mesmo do que se pode ou não explorar e aprender de novos ensinamentos, não seria demais conceituá-las mais apropriadamente, inserindo em sua essência delicada, tanto a forma de sua prática quanto dos critérios de julgamento adotados para o que seja certo e errado. Nestas circunstâncias, não seria demais sugerir um conceito bem de acordo com o que testemunhamos a todo tempo:
‘Religião - é o conjunto de sistemas culturais de crenças e regras, anunciado como de origem divina aos agraciados com a vida eterna, portadores de procuração irrevogável como seus exclusivos intérpretes, que nada mais ambicionarão aprender além do que lhes foi incutido. Visa controlar a relação da humanidade com a espiritualidade, mantendo-as atreladas, a nível escravo, a conceitos particularizados e limitados das verdades julgadas absolutas, atinentes ao Cosmos e à natureza humana. Estabelece a exclusão das estranhas interpretações dos textos nomeadamente sagrados, para cercear o direito de aprimoramento cultural sobre a vida material e espiritual, com base nas matérias doutrinárias e conhecimentos examinados e adquiridos pelos não congregados, contra quem o fiel deverá combater, e a serem, de antemão, aquilatados como inimigos do bem, destinados à morte eterna.’
Obviamente que o texto neste momento criado para conceituar as religiões em seus aspectos negativos, parece ofensivo, deixando transparecer rebeldia contra os sistemas de crenças. Mas não é. Ele é, sim, provocativo. Mas também não no sentido insultuoso, porque queremos provocar sua capacidade de aquilatar uma estrutura educativa religiosa que você recebeu pronta, da qual você não ousa desconfiar a sério, mas apenas imaginar que iluminados e sábios a formularam, e que carrega todos os pressupostos de que isto se deu com a aprovação divina.
Não podemos esquecer que esta estrutura religiosa corrente no mundo ocidental, tem suas origens lá atrás, há mais de quatro mil anos, na época dos Patriarcas que antecederam a conquista das terras de Israel, e de lá para cá enriquecida pelos livros dos Profetas, que se silenciaram quatrocentos antes do evento do personagem Jesus. Se você considerar que os sábios do Sião ajustaram os textos encontrados a cada vez que algo precisou ser esclarecido e estabelecido para doutrinamento do povo judeu, e que concílios eclesiásticos ou equipes de intelectuais da Igreja, depois de traduzirem os textos selecionados, revisaram os relatos e firmaram novas interpretações e, após a cisão da Igreja com a Reforma protestante de Lutero os mesmos textos continuaram recebendo redações e interpretações distintas,