MILHÕES DE ANOS DE ... HISTÓRIA?: A mais longa e encantadora viagem no tempo, em companhia de Ázvil, sempre retornando para mais uma aventura.

Ali, o Patriarca descrevia como trouxeram-no à existência, e como, ao longo de seus muitos séculos de vida, aprendera com a observação das estrelas. Alguém pediu silêncio no meio da turba, para iniciar a leitura, e assim principiava o texto:
– ‘Sou Ázvil, aquele que ora vos fala para deixar o aviso para a posteridade. Fui levado aos céus numa grande estrutura. Ela podia tanto flutuar como uma pluma quanto mergulhar na imensidão onde moram as estrelas, como uma águia veloz. Vi, com meus olhos, como todas as imensidões de terra e água se distanciavam até que não mais pudesse identificar o local de minha morada, nem mesmo as montanhas por trás das quais o Sol se levantava no oriente e se punha no ocidente. Tudo que havia embaixo se reduzira a uma enorme esfera azul, que se tornou um ínfimo ponto, como um grão de areia e, depois, sumiu de vista’.
Impressionados, os cientistas interromperam a leitura e embarcaram numa polêmica discussão a respeito de aquilo espelhar a realidade.
– Não seria melhor conhecermos o que segue nos registros? Quem sabe, teremos mais elementos para julgar se isto é fruto do ilusório ou da realidade? – interferiu Atlanta, a astrônoma vinda do Observatório de Rouache, na Blistonidja.
Alguns queriam continuar o debate, mas a maioria pediu a continuação da leitura. E o texto dizia:
– ‘Disseram-me para que olhasse à volta, e eu olhei. Do zênite ao horizonte, e deste ao abismo sem fim, milhões de estrelas mostravam a magnitude da Criação. Deram-me os nomes de várias delas, dizendo as que habitadas por seres luminosos como eles. As esferas sem brilho próprio foram-me apresentadas como terras iguais às que eu vivia com meu povo. Elas viajam em círculos ou elipses em torno de suas estrelas; assim me foi dito. Depois daquela visão, observei que nos aproximávamos de uma estrela ofuscante, que lançava no espaço como que imensas alças de chamas ardentes. Deram-me uma proteção para os olhos, e logo depois entramos no meio do fogo, e tive medo, mas ele não nos queimava. Explicaram-me o processo pelo qual aquele fogo era soprado para o espaço, e que ele concedia vida a meu mundo e a muitos outros, pois aquele era o Sol que banhava minha terra de luz e calor’.
– Parece não restar dúvida – disse Atlanta –, o relato detalha fatos que só uma pessoa os vivenciando poderia saber.
– Vamos ser sensatos – falou Intesuma, renomado por suas descobertas sobre os cometas e seu papel no Cosmos –, estamos diante de uma situação cósmica incomum e não sabemos o quanto isto pode nos afetar, e até mesmo destruir nossa civilização. Se esses relatos antigos, ilusórios ou reais, podem nos fornecer dados desconhecidos, é melhor procedermos à continuação da leitura do texto. Por favor, continue.
– ‘Foi-me dito que dentro de períodos determinados, aqueles fogos, de polaridade negativa e positiva, perdem a sincronicidade de seus movimentos e se mesclam como numa trança, semelhante à dos longos cabelos das mulheres quando inserem fitas para embelezar seus penteados, ou como as águas de um rio caudaloso que encontram a força da maré alta dos oceanos, formando rodamoinhos que tudo tragam, como um sorvedouro. Quando acontece – ensinaram – a ordem dos movimentos dessas chamas perde sua direção, e as línguas de fogo de natureza oposta se chocam com grande poder, causando uma tormentosa tempestade com raios e relâmpagos. A polaridade que tinha morada no sul, muda para o norte, e a do norte, para o sul. Nesta inversão, gigantescas explosões lançam chamas num sopro veloz, e atingem os astros, queimando-os, e confundindo-os em seu caminhar, e em seu rodopio. Por isso eles param à espera do restabelecimento de seu equilíbrio. Nova orientação lhes sobrevém, e eles prosseguem no seu novo caminhar’.
– Ele está dizendo que o mesmo Sol que nos traz vida, nos trará a morte?
– Ou a transformação – emendou Atlanta.