Linda e seus dois amores

Alberto e Isaura eram os pais de Linda. Rodolfo e Josefa pais de Lurdinha. As famílias eram protestantes e criaram as filhas na Igreja. Quando Linda entrou na adolescência, começou a perceber que amava Rodolfo, seu tio em Cristo. Depois de completar vinte anos, Linda começou a ter consciência das consequências desse amor. Seria a desagregação das famílias, o banimento da Igreja e a perda da vida Eterna. Um dia, angustiada, bateu na traseira do carro de um jovem que sofria de uma doença hereditária e que não viveria por muito tempo. Foi assim que Linda conheceu seu segundo amor: Cândido. Consciente de que o amor pelo tio seria sua ruína, Linda encheu-se de esperança de que seu segundo amor a faria esquecer o primeiro. Rodolfo era escritor e à medida que seus livros foram sendo publicados, foi-se tornando sedutor e admirado pelos jovens da Igreja. Rodolfo, Linda e Cândido passaram a se reunirem, às quartas-feiras, na casa de Rodolfo, para responderem as cartas das fãs. Nessas ocasiões, os dois jovens entregavam-se completamente à sedução de Rodolfo, que falava dos mitos gregos. Certo dia, angustiada, Linda pediu que Rodolfo falasse do amor. Ele falou do mito de Aristófanes que diz que o ser humano era uno, mas que o deus Apolo, com sua espada, separou a parte masculina da feminina. Sem a unidade, o ser humano tornou-se infeliz e saiu pelo mundo atrás de sua parte perdida. Quando a encontra, sente-se uno novamente e jamais quer separar-se. Linda percebeu que seu amor pelo jovem Cândido era o descrito por Aristófanes, pois desde que o havia conhecido, sentira-se completa e não queria separar-se dele. A seguir Rodolfo falou do mito relado por Sócrates: o amor Eros. O amor que não tem limite, que quer sempre e que é capaz de levar o amante à loucura. Rodolfo enfatizou: dominado por Eros, o amante quer sempre e é capaz de caluniar, de trair e até mesmo matar pelo ser amado. Triste, Linda percebeu que seu amor pelo tio era o amor Eros. Quando possuída por esse amor, sentia-se disposta a enfrentar os amigos, a família e até mesmo a Igreja. No casamento da filha, Rodolfo descobriu que amava Linda. Um amor sem limite, que queria revelar-se por completo. Linda, que até então conseguia controlar-se, percebeu que só Cândido, com sua inocência, poderia evitar a vergonha e o fim. Contudo a doença de Cândido era cruel. Seu frágil coração, mesmo monitorado vinte e quatro horas pelo Desfibrilador, parou de bater. Eros, o gênio do amor, já esperava pela morte do jovem. Linda e Rodolfo teriam que se decidir: viver intensamente a paixão, provocando a desagregação das famílias, o banimento da Igreja e a perda da vida Eterna ou deixar esta vida para viver a vida eterna.