Histórias de bonecas e piões

Quando se vê, hoje em dia, uma criança com os olhos grudados num celular - acessando redes sociais, jogando pacman -, numa situação de pleno comodismo e inércia, talvez não se imagine o quanto a infância já foi mais imaginativa, movimentada e, quem sabe, muito mais divertida. Desde as brincadeiras de correr, como esconde-esconde, pique-latinha, mãe-da-rua, uma-na-mula, queimada, etc. que perduraram por décadas, até as brincadeiras de bandido e mocinho, inspiradas nos seriados de TV.
Com a chegada incessante e crescente da tecnologia, que nós coloca tudo à mão, com extrema rapidez, com as facilidades de financiamento, essas atividades foram, gradativamente, dando lugar aos videogames, joguinhos em celulares e bate-papo nas redes sociais. A escalada da violência urbana e a crescente necessidade de segurança em muito colaboraram para a proliferação e incentivo desse novo comportamento que infectou a todos.
É a globalização, o mundo sem fronteiras, ou quase isso.
Não se pode deixar de registrar a perplexidade, diante dessa massiva maneira de novos hábitos de diversão; por outro lado, não se pode insistir para que alguém deixe de fazer aquilo de que gosta, mas pode-se estabelecer critérios e limites para realçar e perpetuar a criatividade desses futuros cidadãos.
A maioria dos infanto-juvenis de hoje não sabe o que é um jogo de peteca, de pião, amarelinha, bolinha de gude, pingue pongue e tantas outras famosas há trinta e poucos anos atrás.
Não se está aqui tentando repudiar nem marginalizar o avanço tecnológico - seria o injusto retrocesso -, porque este trouxe conforto, bem-estar, maior expectativa de vida, novas descobertas e invenções na área farmacêutica e medicinal. Entretanto, é possível a dosagem correta, permitindo-se conviver o antigo com o contemporâneo, o comodismo com o imaginativo, o sedentarismo com o movimentado, a realidade com o sonho, a ciência com a fé.
Por essa razão, nesta publicação, apresentam-se algumas histórias do tempo das bonecas e piões, desprovidas de sensualidade e erotismo, mas com muito amor à vida.
São histórias que pretendem demonstrar que a vida pode ser muito divertida, independentemente da tecnologia viciante e escravizante, associada à diversão e pureza.