A espera e outras narrativas

Em todas as narrativas que aqui se apresentam, verifica-se um pequeno deslize dentro do real que nos introduz, por vezes de forma impercetível, na dimensão do fantástico...

O labirinto (excerto)

Após uns dias sem comer nem beber, e começando a sentir-se profundamente exausto, deparou uma manhã com um pedaço de carne crua e já mirrada, no chão, à entrada de um dos corredores. Tratava-se, mais precisamente, de um osso com bocados de carne que pendiam em toda a volta. Alguém o teria colocado ali, ou era o que sobrava de algum bicho morto? Proferiu uma praga, mas precipitou-se sobre o osso que rapou até ao tutano com a fúria de um selvagem.
Horas mais tarde, surgiu-lhe a ideia de que talvez fosse vítima de uma vingança. Nesse caso, quem a concebera devia tê-la projetado havia já algum tempo. Ninguém conseguiria construir um labirinto assim em apenas umas semanas.

O que me disse um alienígena (excerto)

Não fiques surpreendido com o que te vou dizer, mas nunca nos seria possível viver no vosso planeta. A ideia errada que vos fazeis de nós deve-se a uma espécie de mal-entendido original. Tudo o que imaginais a nosso respeito é apenas a projeção do que sois. E, naturalmente, não conseguis evitar que assim seja. Pois só é possível imaginar algo novo a partir daquilo que já se conhece.