Breve Memória do Menino Que Não Foi Criança

A memória é um sacrário onde, todos os dias, lembranças agradáveis disputam espaço com a nebulosa recordação de eventos e situações que devem ou precisam ser esquecidos. Trata-se de um exercício instintivo: de vez em quando, um cheiro, uma cor, um perfume, a cintilação da luz sobre um tecido, e tantos outros minúsculos e quase imperceptíveis flashes do cotidiano deflagram a ressurreição do passado de cada um de nós, com todas as emoções que aquele momento produziu e, de repente, retornaram como se estivessem acontecendo novamente. O personagem desta novela abre o sacrário da sua memória e apresenta, em textos rápidos e profundamente emocionais, a sua trajetória na vida até chegar aos 70 anos de idade. Sabe-se que as recordações guardadas pela memória podem ser traiçoeiras e provocam dúvidas: elas ocorreram exatamente como são lembradas no presente ou estão adulteradas pelas nuvens do passado? É possível confiar no sacrário da memória? Do ponto de vista ficcional, como é o caso desta novela, as respostas não importam. O importante neste texto memorialístico é o retrato (quase) completo de um personagem que retorna à sua infância, à sua vida de jovem adulto e encerra sua jornada no idoso de 70 anos de idade que abomina e repudia a morte cada vez mais próxima.