Transitando entre o céu e a terra

A feira

Tinha oito anos e amava as manhãs de domingo, quando pulava da cama bem cedinho, tomava a benção dos meus pais e corria para a rua de cima da minha casa onde acontecia a feira. Meus pais já haviam se conformado, que não seria o padre, que eles tanto queriam e isso me proporcionava alegria e liberdade. Já às cinco da manhã o movimento já era intenso, dos feirantes que chegavam e começavam a montar suas barracas. Corria para todos os lados, hora ajudando um, hora ajudando outro, a descer as mercadorias e a ordená-las nas bancas. Quando davam sete horas já estava tudo ordenado e os primeiros fregueses começavam a chegar. Ficava sempre no início da feira, que situava de um lado a banca de queijos e do outro a de jornais. As pessoas passavam e pedias-lhes permissão para carregar-lhes as sacolas e acompanhava o cliente por toda feira e levava suas compras até a sua casa, quando o mesmo me gratificava da forma que julgava adequado. Com o tempo adquiri uma boa clientela. Ao fim da feira ajudava os feirantes a desmontar as barracas e a guardar as mercadorias, neste momento eles me reservavam uma parte do que havia sobrado. Lá por volta do meio dia chegava a casa, com meu carrinho de rodas de madeira lotado de alimentos e os bolsos com uma boa quantia em dinheiro. Não posso esquecer-me de mencionar a banca de cachorro quente, cujo dono me dava tantos pães com molho, tantos quanto conseguisse comer, pois como era vegetariano dispensava a salsicha. Assim de barriga cheia, dispensava o almoço e feliz da vida, dava todo o dinheiro recebido para minha mãe. Devo mencionar aqui um fato, que inclusive faz parte da história de meu Estado de origem. O governo do Estado De Minas Gerais na época, sempre pagava os Militares com atraso, houve ocasiões de ficarem vários meses sem salário, deixando a categoria em grandes dificuldades financeiras. Na época a Polícia Militar criou dentro da instituição, um armazém com a finalidade de vender mercadorias aos militares, para desconto na folha de pagamento. Como o dinheiro era bem curto nestes momentos, ficava imensamente feliz em poder ajudar nas despesas da casa. Gostava muito de trabalhar, mas estudar era uma chateação sem medida. E as tais aulas de religião, estas eram insuportáveis.