O ovo do Barba-Azul e outras histórias

"A perspicácia psicológica [de Margaret Atwood] transparece em tudo, seja quando ela está observando uma família entediada em suas férias em Trinidad ("A íbis escarlate"), ou na rabugice evasiva de uma jovem anoréxica em um hospital ("O canto primaveril das rãs"). Sua prosa é controlada e as frases são cuidadosamente compostas para refletir o brilho de uma inteligência finamente antenada." - ROBERT TOWERS, The New York Times

Sally ama Ed, mas ela não sabe se existe reciprocidade na relação. Ele é cardiologista, mas Sally não acredita que ele realmente se importe com as coisas do coração. Pelo menos, não as que dizem respeito aos afetos. Um dia, ela é desafiada a escolher um personagem da lenda do Barba-Azul para contar a história pelo seu ponto de vista. E ela escolhe o ovo. O ovo do Barba-Azul e outras histórias, reúne doze contos que exploram os comportamentos de homens e mulheres diante de questões como amor e sexo, família e casamento, infidelidade e morte.

A lenda do Barba-Azul, que dá título ao livro, não está ali por acaso. O Barba-Azul era um bruxo que sequestrava mulheres e as testava para ver se mereciam casar com ele com uma tarefa relativamente simples: a “pretendente” deveria tomar conta de um ovo na ausência do dono da casa. Além disso, ela teria a chave de todos os cômodos, mas deveria evitar apenas um. A curiosidade, no entanto, falava mais alto e elas acabavam deixando o ovo cair numa poça de sangue vinda dos corpos esquartejados das ex-futuras noivas que a atual moradora encontrava no lugar proibido. Pelo descuido, ela passava a ser a próxima a jamais sair daquela casa. A relação pode durar contanto que se viva na aparência, sem mexer no que há de sombrio naquela união. De outra forma, a relação acaba e ninguém sai inteiro dela.

O ovo do Barba-Azul e outras histórias reúne contos que fazem uma crítica mordaz aos relacionamentos entre as pessoas, de como eles estão cheios de sentimentos de angústia e alienação. O humor neles é quase triste e leva, algumas vezes, a um sorriso de canto de boca, enquanto se pensa que Sally pode estar certa: relacionamentos e pessoas são parecidos com ovos. Pequenos e frágeis, eles não dão trabalho enquanto não são rompidos. Uma vez rachados, porém, são capazes de causar toda sorte de sentimentos. Mas, afinal, quem deseja viver uma relação verdadeira se não quebrar ovos de vez em quando ?