Ocidente Tardio: Poemas da distância e da saudade

Caro leitor, um livro de poemas com dez capítulos é uma odisseia. Talvez nem caiba o esforço comum à prosa. Porém, sob o título geral escolhido para esta coletânea, Ocidente tardio, foi possível reunir poemas e lapidá-los até acomodar assim. Versos escritos ao longo de dois anos, geralmente, no retorno do trabalho acadêmico. Textos feitos em casa, tarde da noite, com certa regularidade. Quiçá, por isto, apareçam diálogos entre a erudição e o coloquial; e uma forte influência da prosa historiográfica, como sugere o próprio título ao se referir ao ocidente e uma de suas temporalidades; também, considerando uma organização interna capaz de propor a leitura como se uma trama, com começo, meio e fim. Surge, deste modo, uma narrativa sobre variados temas contemporâneos, cujo narrador descreve certa trajetória metafórica: a mesma das viagens oceânicas e das conquistas que se lançaram às distâncias do Atlântico Sul e que nos deixaram reconhecida herança cultural, principalmente, lusitana. Assim, propositalmente, há no livro a marca da intencionalidade para que o leitor logo se convença de que percorre um roteiro, na medida em que cada parte do livro propõe continuação e unidade. O que se confirma com a leitura dos poemas e capítulos encadeados, em busca de um efeito coerente: o poeta deseja ser um cronista dizendo algo mais verossímil, ainda que suas metáforas estejam no comando e os ritmos abusem de aliterações, lembrando que se trata do gênero poesia. Um efeito que sugere o exílio e a saudade, e que busca encadear e levar à leitura a trajetória espacial (ocidente) e temporal (tardio) dos sentimentos da poesia. Por que este o título da coletânea? Porque escrito em Pernambuco, um pedaço da cultura que se convencionou da Europa na direção dos trópicos. Lugar de misturas culturais já narradas por todos os gêneros textuais prosaicos e poéticos, pretendido, aqui, talvez por um ensaio escrito em verso: pensar a razão de ser do Ocidente tardio.

Desse esforço narrativo, talvez somente percebido ao longo da reunião dos poemas, os dez capítulos foram ganhando forma e o compromisso em lidar com a metalinguagem tão comum à seara poética: aparecem versos fundantes para ressoar aos ouvidos; para cantar a musa telúrica; para alegorizar o intertexto; para sensualizar a palavra; para dar nome aos sentidos da poesia; para os novos navegantes do hipertexto; para o discurso poético saturado; versos do lugar onde a poesia foi escrita; versos contaminados pela prosa e aqueles retirados da memória dos textos descartados. Um suposto jogo lúdico/melódico que leva o leitor a estilos que viajam do clássico, passam pelo moderno e chegam às nuances da estética pós-moderna. Ao mesmo tempo, a poesia do tempo maduro em que o poeta alcança os cinquenta anos e, pelo menos, vinte e cinco "cansados de escrever" sobre o novo/velho mundo.