KADUPUL

"Na chegada ao platô em que se encontrava sua casa, havia um pequeno portão preso ao muro que deveria dar segurança ao lar da família. Porquanto da casa se avistasse o vale e dessa visão pudesse pensar o tanto de flora e fauna existentes tão perto, o muro sinalizava uma zona fronteiriça entre a área reconhecida e o desconhecido. O lar estava guardado pelo muro, com tudo o que era doméstico. De lá também podia-se ver, bem longe, a partir do entardecer, as luzes de um parque itinerante que por ali fazia parada uma vez por ano. A enorme roda-gigante era o que mais encantava as crianças. Seu movimento lento, insistia sempre em convidá-las à emoção sentida no fundo do estômago como borboletas dançarinas. A menina, dessa vez mais, foi tomada pelo encantamento vindo da roda que girava e girava e girava, embalando o tempo do sonho..."

"A memória é a mais épica das faculdades mentais", disse Walter Benjamin. Você já pensou que a vida é pura memória?
Kadupul conta a história de uma menina sem lembranças, perdida no tempo/espaço do sonho. Em meio à experiência absurda de um corpo separado de sua consciência, a menina é compelida a criar sua própria vida. Inventando memórias forjadas por afetos intensos, presente, passado e futuro se misturam nas experiências que a personagem vivencia. A flor da idade, como metáfora da passagem do tempo, atravessa as experiências narradas em Kadupul a partir das relações da personagem com a cidade, com a casa, com a família, com a escola, com a religião e com seus amores.

Kadupul, nome enigmático, simboliza o paradoxo da vida como uma passagem, efêmera e eterna ao mesmo tempo.