UMA PEQUENA HOMENAGEM AO CINEMA: OS CINCO ROTEIROS

Ler um roteiro não é como ler um romance, é quase como ler uma peça de teatro, mas não é como ler uma peça. Um roteiro deve ser lido como um visionário, imaginando onde cada câmera será localizada, a melhor lente para cada cena, a iluminação, o som ideal para emoldurar uma tomada épica ou banal, imaginando a performance dos atores, sentindo-se o seu potencial diretor. Ler um roteiro de especulação é entregar-se com paixão, imaginando-o já transformado em um épico, um drama, uma aventura. Mas ler um roteiro é mergulhar tão profundamente em sua história, mesmo não entendendo, ou desprezando, os termos técnicos e a estrutura preestabelecida e profissional, mergulhar intensamente no enredo para jamais imaginar no alto da montanha, no brilho do deserto, câmeras e microfones e homens atrás de câmeras e homens segurando microfones e homens se exibindo com talento para serem filmados por outros homens. Leia um roteiro como quem mergulha apaixonadamente em um romance, onde todos os elementos ganham vida, são reais como se tivessem brotados como mágica da montanha, do deserto, da relva, do mar, de uma casa grande, de uma casa pequenina ou no escritório da Indústria. Não imagine homens com suas parafernálias roubando a alma de artistas e prendendo-as em películas. Não leia um roteiro como um diretor em serviço. Roteiros não devem ser lidos, e nem escritos, como reles textos para virarem filmes. Saia do cinema com a ilusão de ter visto a mais recente maravilha da natureza, capturada e eternizada pelos deuses. Não mate a magia do cinema – Doutor Mygryzkky.

(Em sua última palestra na Conferência dos Cineastas das Galáxias,
antes de atravessar o Arco Prateado)