O Gadareno: A liberdade pode ser assustadora

"A triste figura do endemoninhado surgiu. Reuel tomou alguns seixos na mão, mas não tinha medo. Teria perdido, ele também, o bom senso?
– A tempestade ser nossa – falou a coisa, a voz gorgolejante e repulsiva.
Reuel tomou coragem de perguntar:
– Você controla a tempestade?
– Nós, o Gadareno, não controlar. Mas nós celebrar a tempestade. Nós, o Gadareno, usar a tempestade para amedrontar.
Era a primeira vez, desde a separação, que Reuel falava com o outrora companheiro – ou com quem o estivesse controlando, e não parecia ser tão aterrorizante agora. A tempestade, agora com raios, lhe dava mais medo.
– Não estou com medo da tempestade – mentiu com a máxima devoção.
– A tempestade não ser para atemorizar você. Nós, o Gadareno, querer assustar eles, afogar eles, os discípulos do Ele – explicou a entidade apontando o dedo contorcido para fora da tumba, na direção do lago de Genesaré.
– Você sabe quem sou eu? Você se lembra de mim? - arriscou Reuel.
– Nós, o Gadareno, saber todos!
Reuel balançou a cabeça discordando.
– Você não sabe nem quem você é. Você não é gadareno. Você apenas veio de Gadara. Eu sei quem você é. Você é...
– Legião! Porque muitos somos. Gadara ser nosso lar."