A Funerária

— Que tempo absurdo em que vivemos – reclamou Jorge para Tino, seu assistente – hoje em dia, ninguém morre mais! Você vai à farmácia, eles te dão remédio de graça; se você tem uma doença, o SUS dá tratamento de graça; a TV incentiva as pessoas a pararem de fumar, incentivam a praticarem esportes, a comer verduras, legumes e frutas; deste jeito, eu vou à falência.
— Minha mãe tinha varizes na perna, aquilo era feio, parecia que a perna da velha estava apodrecendo, e o tanto que fedia... Eu a levei no Dr. Fausto e ele a curou, graças ao bom Deus! – comentou Tino, enquanto lustrava um caixão.
— É isso que eu estou dizendo – continuou Jorge. – As pessoas estão vivendo mais, os velhos ficam cada vez mais velhos. No tempo do meu pai, quando chegava o frio, era cliente para todo lado querendo comprar caixão, e agora? Os velhos tomam suas pílulas e continuam vivendo, malditos! Por que não querem morrer? Porra! Se continuar assim, a profissão de agente funerário vai ser tão útil quanto professor de datilografia.