CONTOS RECONTADOS

Os contos reunidos aqui em sua grande maioria são frutos de minha imaginação. Uma minoria é baseada em fatos reais. Cabe ao leitor distingui-los. O que posso dizer é que essa minoria foi baseada em histórias que fui ouvinte anônimo quando criança e adolescente. Já adulto convivendo com assistentes sociais, já que minha esposa foi Superintendente e Secretária de Assistente Social de um importante município do Centro Oeste brasileiro, pude ouvir vários relatos de desumanidades ocorridas em abusos de crianças e adolescentes.Em minha infância a casa de meus pais sempre estava com visitas, parentes e também pessoas amigas tomando chimarrão e conversando, cabe ressaltar que nossa casa foi construída em dois terrenos, devido ao espaço meu pai construiu uma congregação evangélica no local. Na vizinhança alguns homens e mulheres tinham minha mãe e meu pai como amigos e conselheiros. Muitas vezes cedo da manhã passavam por nossa casa para um bate papo que ocorria na cozinha, essas conversas também ocorriam ao fim da tarde. Foi nessas oportunidades que ouvi alguns desses relatos que aqui tive o cuidado de misturar os acontecimentos de um personagem com a história de outro para que não ocorra maiores problemas, pois, se fosse aqui retratado como ouvi, mesmo trocando os nomes reais por fictícios, os personagens seriam desvendados.Quase quarenta anos se passaram e só agora pude entender o porquê de as pessoas procurarem meus pais para conversar, percebi que eles eram bons ouvintes, mais ouviam do que falavam, lembrando as palavras do sábio Rubem Alves, meus pais tinham curso de escutatória. Hoje sei que aquelas pessoas simples, a maioria trabalhando para gente rica, como todos nós precisavam conversar, desobstruir a alma com aquilo que oprimia o coração, muitas vezes sentiam muito mais dor com acontecimentos ocorridos na família dos patrões, do que com os próprios problemas.Não há como negar, que nas páginas seguintes há cenas de abusos e demais monstruosidades cometidas por seres humanos na penumbra da covardia ao violarem a inocência e a dignidade de seres humanos indefesos e ainda frágeis, que não tinham como se defender dessas primitivas atrocidades, que infelizmente ainda ocorrem em nosso meio social.Aos leitores, minhas desculpas, se em determinados momentos não puderem conter a náusea, a indignação e a revolta ante a narrativa de alguns contos. Confesso que relutei muito em escrevê-los e, mais ainda, em publicá-los, no entanto, por tratar-se de uma realidade que ainda persiste em nosso meio social resolvi registrá-los no papel como um alerta sobre o que ocorre muitas vezes diante de nossos olhos, envolvendo vizinhos, amigos e familiares.