O Anjo da Solidão

O romance O Anjo da Solidão, de Pedro Braga, narra a história, baseada em fatos reais, de um imigrante cearense que foi, com amigos e familiares, em demanda de terras livres, onde não havia seca, a “terra da promissão”. Chegou ao interior do Maranhão, fundando um próspero povoado nas terras férteis daquele Estado. Sua tranqüilidade, no entanto, não durou muito tempo. No início dos anos 20, uma tropa da polícia militar é enviada em uma expedição punitiva, a pedido dos latifundiários das redondezas que se sentiram ameaçados com a prosperidade dos lavradores do povoado. Realizaram uma chacina e inúmeras prisões. Algum tempo depois, os revoltosos da Coluna Prestes passaram pela região, obtendo a adesão de Manuel, o principal personagem dessa história, e de seus liderados. Quando a Coluna deslocou-se rumo à Bolívia, Manuel refugiou-se no Ceará, onde se converteu ao espiritismo, retornando, após três anos de “exílio”, a seu antigo povoado, “terra da promissão”. Ali chegando, ele confeccionou um par de asas de anjo e partiu à procura de seus antigos desafetos, reais ou supostos, para reconciliar-se, praticando a caridade para com os necessitados que encontrava pelo caminho.
Pedro Braga deu forma romanesca a essa história, a todos os títulos interessante, utilizando uma linguagem literária aliciante e também pelo esmiuçamento das raízes da cultura do campesinato do Nordeste do Brasil.
Em todo caso, é significativa a epígrafe escolhida pelo autor, em que Camus escreve que “A revolta é uma ascese, embora cega. Se o revoltado blasfema então, é na esperança de um novo Deus.” Com efeito, quando a revolta não encontra seu leito natural de expressão, não raro descamba para formas místicas. E aí tudo pode acontecer. Até homem virar anjo...