Tuberculose na Infância e na Adolescência

A tuberculose, no dizer de Styblo, constitui-se, na época de hoje, em um paradoxo e motivo de escândalo. Conhecemos tudo sobre a doença. Seu agente causal, como se multiplica e como se defende. Sabemos se dissemina, suas preferências, suas fraquezas. onde os mecanismos imunológicos do hospedeiro e como se organizam e agem para atacar e destruir o agressor. Conhecemos a situação da doença em praticamente todas as partes do mundo num paralelismo direto, bem conhecido entre sua elevada prevalência e as baixas condições de vida. Temos recursos para impedir que os sãos se infectem, através de vacinação BCG e impedir que os infectados adoeçam, através da quimioprofilaxia.



A terapêutica pela quimioterapia adequada pode nos garantir a cura de 100% dos casos que escapam ao controle preventivo. Estas perspectivas favoráveis, porém, são utópicas; o que constitui o paradoxo. Tudo sabemos sobre a doença, podemos evitá-la, curá-la e erradicá-la, mas nada disto acontece. Num mundo dividido pela ambição do poder, pela má distribuição de riquezas, onde há fome e miséria para milhões, a lado de desperdício e luxo de alguns, a tuberculose encontra campo fácil para se sobrepor às medidas que a combateriam, mas não podem ser empregadas ou falham por diversas razões. Daí a presença de 2 a 3 milhoes de mortes por tuberculose por ano no mundo, a presença de 10 milhões de baciliferos e outros 10 milhões de casos de tuberculose negativa onde se encontram as formas extrapulmonares especialmente, as formas de tuberculose infantil de onde sairão várias mortes, destacando-se a meningoencefalite, importante ceifadora de vidas. Eis o escândalo. Infectam-se milhões, adoecem milhões e morrem milhões de seres humanos, onde tudo poderia ser apenas lembranças de um passado trágico. Mas é a realidade. Dai a oportunidade sempre presente, nossa, do Professor Dr. Clemax Couto Sant'Anna e de um grupo de colaboradores em publicar um livro sobre tuberculose infantil. Nada mais tempestivo. Os estudantes de medicina, os clínicos, os tisiopneumologistas, os pediatras, os obstetras, todos, enfim, hão de se beneficiar da leitura deste livro, que examinará os mais diversos aspectos do problema.



Estou certo que o livro concorrerá para fornecer informações úteis aos que a ele recorrerem. Servirá, seguramente, para minimizar a contribuição negativa do médico, por falta de conhecimento ou negligência, para a solução de um grave problema brasileiro, como ainda é a tuberculose infantil.



Newton Bethlem Do Prefácio