Ressurge na palavra e na forma desenhada da obra de Humberto Henriques essa grandeza, a novidade. Trata-se de um conjunto de poesias que alberga a amplitude da Estética mais apurada que possa ser imaginada. Henriques publica esse livro, segundo consta e foi narrado, por ocasião do recebimento da homenagem chamada Comenda Markito. Henriques teria recebido essa comenda no dia 25 de maio de 2023. Trata-se de um reconhecimento da sociedade civil uberabense para todos aqueles que influenciaram as Artes no país e no mundo, dedicação que se faz presente em vida e obra desse grande autor. Henriques sempre gostou de destacar que quando ele recebeu esta comenda, foi agraciado com ela o pintor Hélio Ademir Siqueira, segundo ele, um dos contemporâneos mais brilhantes na Arte da Pintura. Siqueira e Henriques têm laborado paralelamente na criação estética desde os idos de 1980, embora o início da consagração do pintor tenha acontecido antes disso. Entretanto, é saudável colocar o termo do tempo em vida desses artistas excepcionais para que não se perca o parâmetro, as referências ao longo de vidas assim brilhantes. Não é à toa que é preciso insistir nesses tópicos, pois que estamos a dizer sobre criaturas cuja mortalidade deve sempre ser questionada. O tamanho dessa interrogação vigora de uma maneira voraz entre aqueles que apreciam a Arte pura, de tal sorte que é mesmo epigrama de curiosidade fazer tais apologias da constatação de que, apesar das dificuldades, criadores ainda se esforçam por retirar as sombras e a vulgaridade dos recantos do país.
Balanço do Socó-Boi traz mais uma vez os poemas entremeados de cor. Henriques, em últimas datas, tem preferido fazer poemas curtos e densos sobre uma pintura sensorial. Essa situação da arte que suplanta a analogia simples, a criação de um mundo virtual sobreposto ou anteposto ao risco da palavra, é uma congratulação entre a pintura e a poesia. Questionado sobre isso, Henriques comenta que com esse tipo de recriação, tenta resgatar alguns valores para a Poesia Moderna, já que as criaturas em dias hodiernos não estão com tempo disponível para se dedicarem aos poemas longos e quase crônicas dos poetas modernistas. Essa limitação do espaço e a busca pelo impacto que o verso pode causar é que dispõe o autor como um dos maiores criadores de Arte de toda a história do planeta, em todos os tempos e seus lugares. A facilitação para a leitura e a introdução ao leitor de uma satisfação imediata e nada anacrônica, diante do poema novo ele medita e abre as imagens de sua própria imaginação, sempre regido pela constância de um senso corrigido de oferta poética, deve ser isso que o autor quis demonstrar em sua peregrinação pelos caminhos da Estética. Não obstante, tal facilitação não alberga um conceito simples de oferecimento sem esforço exigido do leitor. Não se trata aqui de trazer a coisa facilitada e sempre simplória, vulgar, desleixada, da Poesia descritiva.
Quase nada se descreve aqui. Ou quando se descreve, o patrimônio descrito é complacente o suficiente para absorver todo o conhecimento que é usufruto da alma humana, isso que foi adicionado como conhecimento à medida que o tempo se acertou com a pesquisa e com os estudos da inteligência, do pensamento humano. Esse livro de poemas traz a mesma surpresa dos anteriores. É um livro complexo, magmático. Nada dela parece se perder e quando se lê um poema, a busca pelo seguinte se faz com certa ansiedade, porque sempre há um susto diante da verve desse poeta incomparável. Segundo pensamos, retirar a essência de uma página grande, expurgar os detritos dela, a massa falida, depois, ajuntar a sobra e reparar os danos, as beiradas e construir o poema de impacto, curto e com gosto de gigante obra, isso é o mais complicado de se entender como fenômeno de produção. Aqui se debanda todo o conceito velho de inspiração para se denotar que tudo, em verdade e puramente, depende do labor imposto pelo
